quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A razão para a Bundesliga envergonhar a Premier League


Na Alemanha, o adepto é rei. A Bundesliga tem os bilhetes mais baixos e as melhores médias de assistência nos seus estádios entre as 5 maiores ligas europeias. Todos os fins-de-semana, o Signal Iduna Park vai abaixo com as 80.552 pessoas que, freneticamente, apoiam o Borussia de Dortmund. Todas elas tem um motivo extra para estarem felizes: o preço do bilhete não ultrapassa as 10 libras. Os clubes alemães limitam o número de lugares anuais para terem a certeza de que todos tem a oportunidade de ver os jogos da sua equipa favorita e, a equipa visitante, detém 10% dos direitos da capacidade do estádio em dia de jogo. Os adeptos viajam até estes jogos debaixo de uma atmosfera acolhedora, elevando as suas gigantes canecas de cerveja, tostando salsichas, sentindo-se desejados. Algo que o comum adepto inglês apenas desfruta nos seus melhores sonhos.

A Bundesliga é, provavelmente, a competição mais saudável financeiramente a nível europeu - sustenta-se apenas com a liga doméstica, apesar de há 9 anos que uma equipa germânica não vence a Liga dos Campeões. Fazendo uma pequena incursão pelas equipas fora da Alemanha, observa-se o declínio de algumas delas: o Portsmouth caminha para a extinção; o Liverpool e o Manchester United amontoam divídas. Em Espanha, registam-se dezenas de casos de jogadores de divisões inferiores com salários em atraso. Em Itália, as assistências nos seus estádios já viram dias melhores e em França, os clubes gastam mais do que aquilo que lucram.

"Nós possuímos uma situação muito interessante. Em primeiro lugar, os bilhetes são baratos. Em segundo, os clubes limitam o número de lugares anuais. Se tiveres vendido entre 80% e 100% desses bilhetes, serão sempre as mesmas pessoas no estádio. Além disso, a equipa visitante contribui sempre para que o recinto encha, pois detém 10% dos direitos dos lugares em dias de jogo", afirma Christian Seifert, chefe-executivo da Bundesliga.

O ano passado La Liga atraiu uma média de 28,478 pessoas por jogo, Ligue 1, 21,034, a Série A, 25,304 e a Premier, 35,592. Estes números são facilmente eclipsados pelos incriveis números dos alemães: 41,904. Estes números em alta são acompanhados por uma abordagem equilibrada aos salários. "O volume de negócios do ano passado foi de 1,7 bilhões e lucro de 30M €, em que os clubes da Bundesliga recebem menos do que 50%da receita em salários dos jogadores", diz Seifert. Este é o valor no continente mais baixo. Em 2007-08 [o ano mais recente disponível], a Premier League pagou 62%.

Toda a gestão financeira é prudente, apesar de o rendimento da Bundesliga em termos televisivos ser um modesto 594M € em comparação com retorno lucrativo da Premier League de 1.94 biliões de €. Seifert explica a disparidade. "O mercado de TV na Alemanha é muito especial. Quando a TV paga apareceu, em 1991, a média dos agregados familiares já recebia 34 canais de graça. Por isso, tivemos o mercado de TV livre mais competitiva no mundo, e isso influenciou muito o crescimento da televisão por assinatura. Fomos obrigados a mostrar todos os 612 jogos da Bundesliga e Bundesliga II na TV paga. Então, tivemos que arcar com os custos de produção."

Nenhuma equipa da Bundesliga ganhou a Liga dos Campeões desde que o Bayern de Munique venceu o Valência em 2001 e, o seu último finalista, antes do Bayern em 2010,foi o Bayer Leverkusen, há oito anos.Seinfert volta a ter a palavra sobre se os baixos valores arrecadados com os direitos televisivos tiveram influência neste facto. "O Bayern de Munique está entre os quatro primeiros clubes da Europa. É preciso ter em mente que, mesmo o Chelsea, que gastou um monte de dinheiro nos últimos anos, não ganha a Champions. Às vezes você pode ter a sensação que a capacidade de vencer a Champions League, está em consonância com a sua vontade em gastar um monte de dinheiro para apetrechar a equipa. Por isso eu acho que a Uefa está na rota certa com a sua ideia de fair play "financeiro".

Pressionado sobre a falta de sucesso de clubes alemães na mais importante competição de clubes da Europa, Seifert defende a natureza cíclica do desporto. "No final da década de 1990 a Bundesliga foi a liga forte da Europa. Em 1997, ganhou a Liga dos Campeões [Borussia Dortmund] e a Taça UEFA [Schalke]." "Em 1999, 2001 e 2002 estivemos na final, pelo menos. Naquela altura, a Premier League tinha mais dinheiro, mas o sucesso não depende apenas de dinheiro, mas a qualidade que você tem. Se ele só dependesse de dinheiro, o Porto e o Mónaco não teriam jogado a final de 2004."

Seifert também aponta noutra direcção para o sucesso do futebol alemão: produção dos seus próprios jogadores. Esta afirmação é corroborada pela Alemanha, campeã europeia em sub-17, sub-19 e sub-21. "A Bundesliga alemã e a F.A tiveram uma decisão acertada há 10 anos atrás, quando decidiram que, para obter uma licença de clube de 1.ª divisão, é obrigatório a construcção de uma academia. Cinco mil jogadores, com idades entre 12-18 são lá educados. Isso permite que haja mais dinheiro para gastar com os jogadores que são comprados, e há uma maior chance de comprar melhor, mais do que a média, os jogadores "

De todos os regulamentos da Bundesliga, a história recente do futebol inglês sugere que ela poderia ter beneficiado mais com a regra dos 50+1 (é uma regra aplicada ao desporto alemão em que os investidores nos clubes do país não podem deter mais que 49% dos direitos financeiros da institição). Isto indica que os dirigentes de um clube devem manter pelo menos 51% da propriedade, evitando assim que qualquer entidade exerior assuma o controle. O Portsmouth é o exemplo mais gritante de como uma pessoa de fora pode potencialmente arruinar um clube - o administrador está actualmente à procura do seu quinto dono desta temporada.

Martin Kind, presidente do Hannover, quis mudar o regulamento. "A regra significa a perda de capacidade de muitos clubes da Bundesliga para competir nacionalmente e internacionalmente e ,de certa forma, impede um maior desenvolvimento do futebol alemão, especialmente aqueles clubes que jogam na metade inferior da Bundesliga. A regra de propriedade deve ser abandonada ou modificada".

A Bundesliga é um exemplo a seguir, e já deu provas de que está pujante financeiramente. E não falo só do Bayern de Munique. A prova está que a conquista do campeonato alemão nas últimas 5 épocas foi bem repartida. Também nos últimos 3 anos, houve três vencedores diferentes na Taça nacional.

Sepp Herberger, o treinador que em 1954 estava ao leme da selecção alemã que conquistou o Mundial, é peremptório: "Sabe porque é que as pessoas vem ao estádio? Porque nunca sabem qual será o desfecho do jogo a que estão a assistir".

Apoia o modelo da Bundesliga? Acha que em Portugal teria viabilidade? Dinheiro é sinónimo de sucesso?

José Borges

3 comentários:

  1. Sim apoio,e Portugal devia fazer o mesmo nos jogos do Benfica.Daria maia adeptos aos estádios.

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  2. O Alemão não tem jogadores tão bons como a Inglaterra, mas é um dos mais disputados do mundo, com muitos favoritos e zebras nas competições, diferentemente da Inglaterra, que sempre são os mesmos clubes.

    Abraço

    http://gremista-sangueazul.blogspot.com

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  3. Texto muito bom, mas um pouco longo.Acho que em Portugal o único modelo que tem viabilidade e quando o Benfica é campeão.

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