sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Crónica Mensal #4 - As teorias de Jesus e a teoria popular


Interessa como acaba e não como começa. Jorge Jesus gosta da frase. Usa e abusa. Utiliza-a para motivar as tropas, para dar um sinal de confiança, para acalmar os ímpetos como quem diz: alto lá, vamos ter calminha, no final é que se fazem as contas. É algo tão óbvio mas que, por paradoxal que pareça, tem eco. Porque há, por vezes, a vontade de, no início de alguma coisa, traçarmos um caminho, um destino, um final. Vemos uma maratona, um candidato fica para trás, parece atrasadíssimo nos primeiros cinquenta metros, nunca mais lá vai, mas sabemos lá se não chegará ao final em primeiro. Os adversários podem tropeçar, ele pode ganhar força, pode recuperar. O que nasce torto tarde ou nunca se endireita? Há quem diga que sim. Jorge Jesus, ao que parece, não acha. E, como ele, muitos mais.

Tenho cá para mim que Jorge Jesus tem razão no que diz. Mas concordo com quem diz que não há forma de emendar algo que nasceu torto. Neste caso, pelo menos. O Benfica começou a época mal. Entrou nos livros, 
daqueles que gostamos de ler para saber curiosidades e estatísticas, como o pior arranque de sempre de um campeão, primeiro, e da própria história benfiquista, depois, consagrando um período de verdadeiro 
caos. Tudo foi posto em causa. O Benfica, em quatro jogos, perdeu três. Nove pontos por água abaixo no campeonato. Antes disso, no arranque, a Supertaça fugira para o FC Porto. Mas, depois de derrotado no Dragão, com a honra no tapete e o orgulho ferido por cinco tiros certeiros, o Benfica ressurgiu. Vai, actualmente, numa série de dezasseis vitórias consecutivas. E respira confiança.

Hoje, ao contrário do que acontecia em Setembro, Jorge Jesus não tem o lugar em risco. O Benfica não está em xeque. Apurou-se para os oitavos-de-final da Liga Europa, tem a passagem à final da Taça de Portugal bem encaminhada depois de vencer o FC Porto, joga as meias-finais da Taça da Liga na recepção ao Sporting e continua na luta pelo título - com oito pontos de atraso. Está em estado de graça. Apesar de ser segundo. Porque joga, porque encanta, porque circula, porque destrói e porque tem dinâmica. Esteve nos cuidados intensivos e reapareceu em grande. Mas pode acabar sem nada. O melhor mesmo é esperar pelo final. Como diz Jorge Jesus? Interessa como acaba, certo?

Só que, para além da frase de Jesus, há a outra, que defende o contrário, a tal do nascer. Também se encaixa. O leitor poderá estar, por esta hora, com a cabeça à roda. Eu explico: o campeonato é o 
grande objectivo do Benfica, é aí que aposta as suas fichas, o bicampeonato é algo que faz os benfiquistas babar e aí... a equipa nasceu mal. Ora, isso poderá ter sido fundamental. Faltam dez jogos para o final da Liga, o Benfica tem oito de atraso, ainda acredita, mas, no fundo, vai percebendo, com a resposta do FC Porto, vencedora embora não convincente, que as suas hipóteses são cada vez mais reduzidas. Vê, leitor,como se conjugam as duas teorias? É importante dar tempo, como Jorge Jesus quer e esperar para, no tempo certo, fazer as contas - só no final, certo?, ainda não chegamos lá. Mas, por outro 
lado, também o que nasce torto...

Nota: Crónica feita por Ricardo Costa, autor do conceituado blog Futebolês

3 comentários:

  1. É curioso como é que uma equipa se levanta após levar 5 dos rivais... há ali qualquer coisa no JJ que o torna diferente!

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