sexta-feira, 22 de abril de 2011

FC Porto - Requintes de malvadez e o fascínio pela posse


Um, dois, três, vamos lá. Respirar fundo, encher o peito, juntar as forças todas e levantar a cabeça. "Bamos em frente mas combictamente". Onze jogadores colocados, planos traçados, estratégias prontas, alternativas testadas, até para o caso de o adversário jogar com onze colados à baliza ou seja lá o que for, está tudo pronto. Fala André Villas Boas. Siga, rápido, confiança, todos no caos, mas com disciplina e organização. Alto lá!: caos, disciplina e organização na mesma frase? Não faz sentido. Nem precisa. Porque o assunto é futebol. Não há regras rígidas nem há dogmas. Isso fica à porta, um bocadinho antes do tapete que tem welcome estampado, não entra. Vamos, vamos, energia, emoção, garra, força. Caos lá pelo meio. Só que contido, disciplinado, organizado. Junta-se tudo isso. E é possível.

Garra transbordante, alma e coração, empenho para vencer, para vergar o adversário e para o fazer implorar clemência. Asfixia-o, tira-lhe a bola, encosta-o e atinge-o nos momentos certos. Killer instict, dizia o sir. Sem fazer do futebol um exercício chato, paciente, táctico, com estratégia para aqui e para ali, com peças mexidas a medo e a copiar a cartilha. O jogo do FC Porto é genuíno. Com requintes de malvadez, um olhar desconcertante e aquele sorriso maléfico. Tem conhecimento, tem uma engrenagem, tem a obsessão pela posse, pela bola, saliva por tê-la, circulá-la e fazê-la girar pela equipa. Adoça com liberdade, com prazer, com gozo. Os jogadores estão inseridos num maquinismo. Mas isso não faz deles peças. São livres. Caos e organização... Já faz sentido?

André está em êxtase. Salta, vibra, canta. É um adepto: pulos, loucura, voz rouca, vitória. Villas Boas sorri, cumprimenta quem está ao seu lado, tira a mão do queixo, deixa a pose e descomprime. André Villas Boas sente o prazer da conquista. Este, com nome próprio e apelido, é a mistura dos dois primeiros, do adepto e do treinador, é quem sente mais vontade de vencer, mais sede de vitória, mais desejo de ganhar, de gritar até à rouquidão completa. Tem a garra de André e o conhecimento de Villas Boas. Um quer a equipa a jogar bem, a agradar, a ganhar com categoria, destroçando os adversários, passando-lhes por cima. Custe o que custar. O outro sabe que nem sempre é possível, acalma, segue aquilo em que pensa, puxa pelo controlo emocional e pela capacidade de gerir a posse. O FC Porto ganha com a fusão. E tem um líder.

Se o leitor está convencido, pode parar por aqui. O percurso chegou ao fim. Se ainda não, acompanhe, por favor. Para os mais cépticos, há que encontrar factos. Não chega dizer que o FC Porto, este FC Porto, é veloz, é confiante, é pressionante e é dominador. Nem sempre é brilhante. Certo. E isso pode funcionar como um contra. Não é vertiginoso, não joga nos arames, não arrisca como se não houvesse amanhã. André, se calhar, fazia-o. Mas não deve. Villas Boas é bem mais cauteloso, quer a equipa alegre e a jogar por gosto, sim, mas também com concentração e capacidade de evitar problemas. Essa é uma das grandes virtudes. E do FC Porto também. Com que necessidade criar problemas desnecessários? O dragão sabe antecipá-los e prepará-los. Não é uma avalanche ofensiva. É um gestor exemplar.

Ora, vamos a números. Fazem sempre falta. Os do FC Porto, até agora, são estes: quarenta e oito jogos, quarenta e uma vitórias, quatro empates, três derrotas, cento e onze golos marcados e vinte e oito sofridos. Dois títulos assegurados. Números gordos, imponentes, invejáveis. Nem sempre alcançados de forma brilhante, às vezes num estilo mais pragmático, dependente daquilo que havia para ultrapassar, mas consistente, superior e arrasador. Com pedras, cintilantes e preciosas, como Hulk, Falcao ou Guarín, exemplos da tal liberdade que resulta da organização. O dragão continua a sua caminhada. Com requintes de malvadez, um olhar desconcertante e aquele sorriso maléfico.

Acha que estaremos perante o melhor FC Porto de sempre? Depois da reviravolta na Luz, os portistas conseguirá agora ultrapassar o Vilarreal e ganhar a Liga Europa? Qual o segredo portista para esta época excepcional? Fruto do talento do plantel ou mérito de Villas-Boas? Até onde poderá chegar o técnico portista?

Nota: Crónica feita por Ricardo Costa, autor do conceituado blog Futebolês

5 comentários:

  1. Nota: o texto foi feito no dia 16 de Março. Por isso, "os números" apenas são contabilizados até aí.

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  2. Grande Crónica!Força Porto!

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  3. O FC Porto não foi um justo campeão, o Benfica mereceu este titulo mais do que o PORTO,o Benfica só não ganhou por causa da arbitragem.

    Benfica Sempre!!!!!

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  4. Oh Ricardo Oliveira, todos sabemos que o pai Natal é o teu pai e a Branca de Neve a tua mãe, e que se o Tarzan tivesse calças era o teu filho.

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  5. Esqueci-me desse pormenor, caro Ricardo. Parabéns pela crónica, ficou muito boa mesmo.

    Anónimo, é realmente uma grande crónica.

    Caro Ricardo, sempre com a mesma lengalenga.Aprenda a dar mérito a quem o mereceu, tal como o mérito foi dado no ano passado ao Benfica.

    Caro João, ahahha.

    Abraços a todos

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