Garra transbordante, alma e coração, empenho para vencer, para vergar o adversário e para o fazer implorar clemência. Asfixia-o, tira-lhe a bola, encosta-o e atinge-o nos momentos certos. Killer instict, dizia o sir. Sem fazer do futebol um exercício chato, paciente, táctico, com estratégia para aqui e para ali, com peças mexidas a medo e a copiar a cartilha. O jogo do FC Porto é genuíno. Com requintes de malvadez, um olhar desconcertante e aquele sorriso maléfico. Tem conhecimento, tem uma engrenagem, tem a obsessão pela posse, pela bola, saliva por tê-la, circulá-la e fazê-la girar pela equipa. Adoça com liberdade, com prazer, com gozo. Os jogadores estão inseridos num maquinismo. Mas isso não faz deles peças. São livres. Caos e organização... Já faz sentido?
André está em êxtase. Salta, vibra, canta. É um adepto: pulos, loucura, voz rouca, vitória. Villas Boas sorri, cumprimenta quem está ao seu lado, tira a mão do queixo, deixa a pose e descomprime. André Villas Boas sente o prazer da conquista. Este, com nome próprio e apelido, é a mistura dos dois primeiros, do adepto e do treinador, é quem sente mais vontade de vencer, mais sede de vitória, mais desejo de ganhar, de gritar até à rouquidão completa. Tem a garra de André e o conhecimento de Villas Boas. Um quer a equipa a jogar bem, a agradar, a ganhar com categoria, destroçando os adversários, passando-lhes por cima. Custe o que custar. O outro sabe que nem sempre é possível, acalma, segue aquilo em que pensa, puxa pelo controlo emocional e pela capacidade de gerir a posse. O FC Porto ganha com a fusão. E tem um líder.
Se o leitor está convencido, pode parar por aqui. O percurso chegou ao fim. Se ainda não, acompanhe, por favor. Para os mais cépticos, há que encontrar factos. Não chega dizer que o FC Porto, este FC Porto, é veloz, é confiante, é pressionante e é dominador. Nem sempre é brilhante. Certo. E isso pode funcionar como um contra. Não é vertiginoso, não joga nos arames, não arrisca como se não houvesse amanhã. André, se calhar, fazia-o. Mas não deve. Villas Boas é bem mais cauteloso, quer a equipa alegre e a jogar por gosto, sim, mas também com concentração e capacidade de evitar problemas. Essa é uma das grandes virtudes. E do FC Porto também. Com que necessidade criar problemas desnecessários? O dragão sabe antecipá-los e prepará-los. Não é uma avalanche ofensiva. É um gestor exemplar.
Ora, vamos a números. Fazem sempre falta. Os do FC Porto, até agora, são estes: quarenta e oito jogos, quarenta e uma vitórias, quatro empates, três derrotas, cento e onze golos marcados e vinte e oito sofridos. Dois títulos assegurados. Números gordos, imponentes, invejáveis. Nem sempre alcançados de forma brilhante, às vezes num estilo mais pragmático, dependente daquilo que havia para ultrapassar, mas consistente, superior e arrasador. Com pedras, cintilantes e preciosas, como Hulk, Falcao ou Guarín, exemplos da tal liberdade que resulta da organização. O dragão continua a sua caminhada. Com requintes de malvadez, um olhar desconcertante e aquele sorriso maléfico.
Acha que estaremos perante o melhor FC Porto de sempre? Depois da reviravolta na Luz, os portistas conseguirá agora ultrapassar o Vilarreal e ganhar a Liga Europa? Qual o segredo portista para esta época excepcional? Fruto do talento do plantel ou mérito de Villas-Boas? Até onde poderá chegar o técnico portista?
Nota: Crónica feita por Ricardo Costa, autor do conceituado blog Futebolês
Nota: Crónica feita por Ricardo Costa, autor do conceituado blog Futebolês
Nota: o texto foi feito no dia 16 de Março. Por isso, "os números" apenas são contabilizados até aí.
ResponderExcluirGrande Crónica!Força Porto!
ResponderExcluirO FC Porto não foi um justo campeão, o Benfica mereceu este titulo mais do que o PORTO,o Benfica só não ganhou por causa da arbitragem.
ResponderExcluirBenfica Sempre!!!!!
Oh Ricardo Oliveira, todos sabemos que o pai Natal é o teu pai e a Branca de Neve a tua mãe, e que se o Tarzan tivesse calças era o teu filho.
ResponderExcluirEsqueci-me desse pormenor, caro Ricardo. Parabéns pela crónica, ficou muito boa mesmo.
ResponderExcluirAnónimo, é realmente uma grande crónica.
Caro Ricardo, sempre com a mesma lengalenga.Aprenda a dar mérito a quem o mereceu, tal como o mérito foi dado no ano passado ao Benfica.
Caro João, ahahha.
Abraços a todos